Optar por uma alimentação que, além de saudável, também seja sustentável, significa preocupar-se com todas as etapas pelas quais os alimentos passam, desde a produção, preparação, embalagem, transporte, distribuição e venda.
Em 2050, a população mundial será superior a 9 mil milhões, o que significa que será necessário produzir mais 60% de alimentos. Por outro lado, atualmente, 1/3 dos alimentos produzidos não é consumido – ou seja, é desperdiçado. Exemplo: anualmente, são produzidos 263 milhões de toneladas de carne (o que gasta muitos recursos do Planeta) e, deste valor, 20% vão para o lixo. Mesmo assim, em todo o mundo, 900 milhões de pessoas passam fome, enquanto 1,9 mil milhões sofrem de excesso de peso. O desperdício alimentar contribui para a deterioração do nosso Planeta: é responsável por 8% dos gases que provocam efeito de estufa. E, ao mesmo tempo, é uma fonte de desperdício dos recursos esgotáveis da Terra, como a água. “são necessários cerca de 2000 a 5000 litros de água para produzir os alimentos consumidos. ” Vale a pena recordar que no passado dia 10 de maio de 2019, chegámos à data anual em que esgotámos todo o capital natural da Terra, passando a viver "a crédito" face aos recursos do planeta. O alerta é feito pela World Wildlife Foundation (WWF) e pela Global Footprint Network, que marcaram esta data simbólica como o dia “D” da capacidade de o planeta regenerar os seus recursos naturais face à pegada ecológica (5) humana. E este ano acontece 83 dias mais cedo do que no ano passado.”
Algumas mudanças no nosso dia-a-dia poderão ajudar a diminuir.
Dicas para fazer uma alimentação sustentável
1. Elabore uma lista de compras
Primeiro passo é planear. Uma lista de compras que se cinja ao necessário evita o desperdício, tanto alimentar, como do orçamento familiar.
2. Mais vegetais, menos animais
A produção dos alimentos de origem animal é prejudicial à gestão dos recursos e preservação da Terra. Por outro lado, “produtos de origem vegetal têm uma redução expressiva sobre a pegada de carbono (3), hídrica (4) e ecológica (5)”. Assim, a APN recomenda ocupar ¾ do prato com alimentos de origem vegetal e limitar a ¼ do prato os alimentos de origem animal.
3. Aumente o consumo diário de leguminosas
As leguminosas são um substituto de alimentos de origem animal (carne, pescado ou ovos), uma vez que são fontes de proteína. Juntar arroz e feijão, por exemplo, é uma maneira de garantir uma ingestão de proteína de elevado valor biológico.
4. Sirva as porções em função da Roda da Alimentação Mediterrânica
As recomendações da Roda dos Alimentos devem ser seguidas. Seguindo as suas regras, ingerimos aquilo que necessitamos (o adequado individualmente, claro) e consumimos mais local, sazonal e, assim, evitamos o desperdício. De acordo com a APN, a” Dieta Mediterrânica (5) constitui um padrão alimentar e de estilo de vida que promove o bem-estar do Planeta”, incentivando “a utilização de alimentos locais e sazonais.”
5. Prefira alimentos locais e da época
Um alimento local é produzido na proximidade, tendo uma cadeia de distribuição curta. O consumo de alimentos locais promove a economia da região e minimiza a pegada de carbono.
Um alimento sazonal é um alimento fresco, que se encontra disponível localmente e em condições de maturação adequadas para consumo. Estes alimentos têm um custo econômico e ambiental inferior ao dos alimentos consumidos fora da época. Além de que, podem apresentar melhores características organoléticas e nutricionais.
6. Reduza o desperdício na preparação dos alimentos
Quando estiver a cozinhar, utilize todas as sobras possíveis para novas refeições. A reutilização e aproveitamento são essenciais para diminuir o desperdício alimentar na Terra. Com menos desperdício, produzimos menos e poupamos o Planeta e os seus recursos.
7. Cozinhe com panelas de pressão
Limite a utilização do forno e escolha antes cozinhar em panelas de pressão: são mais rápidas e permitem “economizar mais energia”.
8. Prefira embalagens familiares
Dificilmente vai poder excluir a compra de embalagens do seu dia a dia. Mas poderá limitar a sua utilização ao escolher opções maiores e familiares. Quando compra unidades individuais, avulso, está a gastar mais recursos da Terra.
9. Esteja atenta ao prazo de validade dos produtos
Consuma primeiro os alimentos com o prazo de validade no final. Caso contrário, o produto expira e vai para o lixo.
Construir uma visão comum para a sustentabilidade alimentar e agricultura depende de cada um de nós.” Building a common vision for sustainable food and agriculture (FAO, 2014)
O QUE É UM ALIMENTO SUSTENTÁVEL? É um alimento: produzido com recurso a métodos de produção que respeitam o ambiente e os animais; local e sazonal adquirido diretamente aos produtores; não processado, de modo a minimizar a quantidade de recursos utilizados (p.e. água, combustível); que respeita o bem-estar do ambiente, dos animais, dos produtores e dos consumidores
O QUE É UMA DIETA SUSTENTÁVEL? Segundo a definição da FAO (2015), uma dieta sustentável tem baixo impacto ambiental e contribui para a segurança alimentar e nutricional da população, assim como para o seu estado de saúde, tanto no presente como no futuro. As dietas sustentáveis protegem e respeitam a biodiversidade e o ecossistema; além de que permitem otimizar os recursos naturais e humanos. Para além disso, uma dieta sustentável é culturalmente aceite, nutricionalmente adequada, acessível pela população, segura e economicamente justa.
PEGADA DE CARBONO Calcula a emissão de gases com efeito de estufa, durante o ciclo de vida do alimento. É medida em gramas de C02 (g CO2).
PEGADA HÍDRICA Mede a quantidade de água doce, em L ou m3, disponível. Também corresponde à quantidade de água utilizada para a produção dos alimentos e matérias-primas.
PEGADA ECOLÓGICA Mede a superfície de terra (ha), biologicamente produtiva, e a água necessária para substituir os recursos utilizados e absorver os resíduos produzidos em relação à capacidade da Terra de regenerar os recursos naturais.
A Dieta Mediterrânica constitui um padrão alimentar e de estilo de vida que promove o bem-estar do planeta, correspondendo à região do Mediterrâneo, um dos locais do mundo com maior biodiversidade.
Por: Susana Pereira: Nutricionista do clube de saúde Kalorias Braga, membro efetivo da Ordem dos Nutricionistas nº1762N.
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